REFLEXÃO - Quando a mentira é mais convincente do que a verdade
QUANDO A MENTIRA É MAIS CONVINCENTE DO QUE A VERDADE
Érica, motivada ao ler seu e-mail resolvi escrever contando
sobre uma mentira que mudou para sempre a história da minha família.
Somos três irmãos, Ana, Andreia e Arthur. Eu sou a Ana. Meu
irmão Arthur sempre teve um sexto sentido nada comum ao sexo masculino e tem
uma capacidade diferente de perceber nas pessoas o que ninguém percebe. E isso
aconteceu com meu ex cunhado desde a época que namorava com minha irmã Andreia.
Arthur não gostava dele, mas concretamente não conseguia mostrar a nenhum de
nós que o Flávio não era quem achávamos que era.
Minha irmã estava casada há uns sete anos e tinha um casal
de filhos, morava no fundo da casa dos meus pais com todo conforto. E o Arthur
continuava a não gostar do Flávio, como achava que minha irmã não era feliz
apesar de mostrar que era. O Flavio
ficava muito tempo fora de casa alegando que viajava a trabalho.
Naquela época, um casal de amigos do Arthur se casou e fez
uma despedida de solteiro numa boate de nudez, os convidados eram homens e
mulheres para a festa divertida. Arthur foi e no meio da festa viu o Flavio com
outra mulher, beijando, passando a mão. Ele tinha dito pra minha irmã que
estava viajando a trabalho. Meu irmão ficou louco da vida, só confirmou o que
ele sempre achou, que meu ex cunhado era um canalha. Com esposa e dois filhos,
ia a boates atrás de mulheres sem caráter.
Quando chegou em casa me contou e resolveu conversar com o
Flavio e avisou que se ele não parasse com essa vida, iria contar a nossa irmã.
É claro que o Flavio negou tudo, gritou, e chamou meu irmão de louco.
Aparentemente ficou por isso mesmo.
Nessa época era a febre das consultas de cartomantes e
videntes por telefone e minha mãe e a Andreia adoravam essas coisas, iam em
todo lugar que alguém dissesse que era bom. Um dia, ligaram em casa dizendo ser
de um centro exotérico e oferecendo 10 minutos de consulta grátis, a Andreia
aceitou na hora e adorou porque a tal vidente tinha acertado tudo. Passou a ligar semanalmente para essa
vidente, que sempre acertava tudo. Disse que Andreia tinha um marido
maravilhoso, honesto, fiel, apaixonado e que eu e meu irmão tínhamos inveja
desse casamento bem sucedido e deu a entender que meu irmão era gay e tinha
interesse no meu ex cunhado, por isso implicava tanto com ele. Apesar de assustada, minha irmã preferiu
acreditar nisso. Um dia, a Andreia não
tinha mais dinheiro para as consultas e a vidente se ofereceu para atender
gratuitamente sempre por 15 minutos.
Foi nisso que comecei a desconfiar de que
tinha alguma coisa muito errada. Contei pro Arthur e começamos a tentar
descobrir o que estava por trás disso. Descobrimos que a tal vidente não era
vidente coisa nenhuma, na verdade era a amante do meu ex cunhado e como ele
contava tudo pra ela, foi fácil ela criar essa história e enganar minha irmã.
Fomos à casa dela, saiu o maior barraco e ela negando tudo. Mas tínhamos o
registro de todas as ligações e da conta telefônica em nome dela. Ela ameaçou a
gente, foi um desgaste muito grande.
Resolvemos contar tudo para a Andreia que ficou perplexa e
falou que ia matar o Flavio quando ele voltasse de mais uma dessas viajens de
trabalho. Contamos também para nossos pais. Eu e o Arthur sabíamos que o Flavio
estava na casa da amante nesses dias. Quando ele chegou, nós que morávamos na
casa da frente ficamos em alerta para a possível briga entre os dois. A briga
começou e logo ficou tudo calmo e quieto. Na manha seguinte, eles sempre tomavam
café na minha mãe, os dois entraram sorridentes, de mãos dadas e para nossa
raiva, percebemos que o Flavio tinha conseguido enganar minha irmã de novo.
Engolimos o pão como se fossem espinhos e saímos ara trabalhar. A Andreia
contou para meus pais que tudo não passava de mentira do Arthur e que o Flavio
tinha confirmado que desde que eles eram solteiros, que o Arthur o assediava e
como ele não correspondia, criava esses problemas e mentiras. Meus pais caíram
nessa conversa e passaram a hostilizar o Arthur, e meu pai chegou a dizer que
tinha vergonha de ter um filho gay. Por mais que eu e o Arthur tentássemos
mostrar a todos a verdade, ninguém se convenceu e tão humilhado o Arthur saiu
de casa e foi morar com um amigo, o que aumentou a certeza de que ele era gay.
Eu tinha raiva de ver o Flavio andando, entrando e saindo de casa com ar de
vencedor.
O Arthur cortou relações com toda a família, menos comigo e
sofríamos muito com tudo aquilo.
Alguns anos depois, o Arthur ficou noivo de
uma mulher e estava de casamento marcado. Meu pai teve um infarte e ficou
hospitalizado, com medo de morrer, mandou chamar o filho que nunca mais tinha
visto e na ignorância dele, ainda teve a capacidade de dizer para meu irmão que
não se casasse com uma mulher, já que ele gostava de homem, que não era honesto
o que fazia com ela. O Arthur saiu de lá soltando fogo pelas ventas. E o Flavio
continuava suas viajens para encontrar com as amantes.
Muitos anos depois, aquele casal que fez a despedida de
solteiro, fez uma festa na casa deles e foi passando no telão as fotos da
história do casal. A Andreia estava presente e mudou de comportamento depois
que as fotos da despedida de solteiro foram exibidas, inventou uma desculpa e
foi embora.
Durante aquela semana, toda a verdade escondida durante
quase 12 anos, veio aparecer. A Andreia reconheceu o Flavio que aparecia no
fundo de algumas fotos e ele estava abraçando, beijando outras mulheres. Mas
acredita que ela ficou quieta, não contou nada pra ninguém por vários meses,
mas passou a ir atrás de tudo o que o Flavio fazia e a cobrar provas de que
estava viajando. Ele tinha comprovante de tudo, e já tinha mostrado tudo isso
no passado, na época que contamos a ela da amante. Só nesse momento foi que ela
foi averiguar e descobriu um monte de absurdos. Ela foi até a cidade que ele
costumava dizer que ia e levou as notas fiscais do hotel que o Flavio dizia
ficar hospedado e descobriu que ele ficou lá só uma vez há muitos anos atrás.
Descobriu que os comprovantes de pedágio eram falsos, as passagens de avião
eram falsas, tudo era falso. Deu muito trabalho, mas ela foi atrás sozinha de
tudo e diante de tantas provas, colocou o Flavio para fora de casa que saiu
rindo e dizendo que todos nós éramos uma família de idiotas, que éramos burros
e ingênuos que ele tinha enganado todo mundo. Foi muito humilhante e trouxe
muita dor e desgosto para todos nós.
Minha irmã procurou pelo nosso irmão, mas ele não conseguiu
se aproximar. Meu pai também foi pedir perdão a ele, mas como disse o Arthur,
estavam todos perdoados, mas ele não conseguia mais amar nem se aproximar da
família que um dia duvidou dele e acreditou em um mentiroso. Minha família
tentou dizer que era difícil acreditar que uma pessoa se desse ao trabalho de
comprar uma linha telefônica e inventar
que era vidente. Que o Flavio tinha todos os comprovantes de pedágio,
avião, hotel, reuniões. Foi mais fácil acreditar que o Arthur era gay.
Nossa família nunca mais foi unida, nunca mais tivemos todos
os irmãos reunidos no Natal, nos aniversários. O Arthur manda os filhos dele
através da esposa, ele nunca mais conseguiu ficar junto dos meus pais e da
minha irmã.
Essa história trouxe uma mágoa e dores muito grandes em
todos nós. Minha irmã ficou sozinha e em depressão por alguns anos, mas já se
casou de novo com um homem honesto. O Flavio continua enganando outras mulheres
poraí.
Mas até hoje tanto ela quanto meus pais se culpam por não
terem acreditado no Arthur.
Por que algumas mentiras são mais convincentes do que a
verdade?
Texto: Érica Barros - VITA BIOTERAPIAS
Comentários
Postar um comentário